Idioma:

  • Artigo: Precisamos falar de engenharia

    DATA: 07/11/2022

    Publicado por: OEC

    Por Claudio Medeiros*

    A exportação de serviços de engenharia é uma atividade estratégica para as maiores economias mundiais, gerando empregos, renda e investimentos ao longo da cadeia de fornecedores que integram o ecossistema do setor, equilibra o balanço de pagamentos nacional e serve como instrumento da política de comércio exterior. Pela complexidade dos projetos executados e da alta competitividade, o mercado é dominado por apenas 15 países e 300 empresas, com histórico reconhecido de capacidade técnica e presença assídua na exportação. O Brasil é um deles e testemunha dos ganhos em produção de conhecimento interno a partir do investimento em inovação tecnológica e incremento técnico em empreendimentos executados tanto no mercado internacional quanto no doméstico.

    O papel do Estado como fomentador da internacionalização é pacificado, sobretudo pela geração de valor para a economia local, como ocorre nos Estados Unidos, Japão, Alemanha, China e Reino Unido em suas cadeias produtivas. Já o Brasil, na última década perdeu posições no ranking de países exportadores de engenharia para assistir ao avanço das empreiteiras estrangeiras no nosso país e na América Latina.

    Em que pese a profunda crise enfrentada pelo segmento nacional há quase uma década, preservou-se a capacidade técnica, com provas de resiliência. As marcas nacionais mantêm grandes contratos de prestação de serviços no exterior, com brasileiros executando projetos de alta complexidade e condições de viabilizar portos, aeroportos, hidrelétricas, termelétricas, entre outros projetos de elevada exigência técnica.

    O principal gargalo para a exportação de bens e serviços de engenharia é, portanto, o financiamento de longo prazo ou aval segurador, a fim de permitir a competição das empresas brasileiras com suas concorrentes internacionais.

    De 1989 até 2015, quando foram suspensos os desembolsos a esse segmento, o volume de financiamento direcionado pelo BNDES para incentivar exportações de engenharia totalizou US$ 10,5 bilhões. Em contrapartida, o banco recebeu US$ 12,8 bilhões em pagamentos dos países tomadores dos empréstimos, com US$ 1 bilhão de saldo devedor pendente.

    Considerando o impacto com arrecadação de impostos e a geração de empregos em território nacional em toda cadeia, o superávit para o Estado é ainda maior. O Brasil chegou a alcançar participação mundial de 3,2% em 2015, quando esse mercado somou US$ 500 bilhões. Em comparação, a Turquia, economia que é cerca da metade da nossa e com menor diversificação industrial, conta hoje com 4,4% desse mercado, o que demonstra que é plenamente possível ao Brasil retomar uma posição compatível com o tamanho da economia nacional.

    As empresas espanholas perceberam a saturação do mercado doméstico e apostaram na internacionalização: OHLA, Sacyr, Acciona, FCC, Ferrovial e ACS, maiores construtoras do país, fecharam o primeiro semestre de 2022 com uma carteira de 205 bilhões de euros, com obras na Colômbia, México, Chile, Peru e Brasil.

    Por aqui, seguimos perdendo relevância e oportunidades desde que a exportação de serviços foi alvo de ataques infundados de que se prestavam a drenar recursos nacionais. Entre 2003 e 2018, a atividade representou só 1,3% do total desembolsado pelo BNDES, enquanto investimentos na infraestrutura nacional, no mesmo período, responderam por 36%.

    Levantamento produzido pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon) mostra que, a cada R$ 1 milhão investido em infraestrutura, há incremento direto no PIB do país em R$ 1,4 milhão e tantas outras oportunidades indiretas que impactam as cadeias produtivas de 32 setores de nossa economia.

    A utilização desses mecanismos deveriam voltar à pauta dos gestores públicos, abrindo um debate, dessa vez, mais qualificado e que permita a revisão e retomada dos instrumentos oficiais. Não existe país grande sem empresas fortes e comprometidas com o crescimento nacional. O voluntarismo do passado rendeu lições que não podem ser esquecidas, muito menos revividas.

    *Claudio Medeiros é presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada-Infraestrutura (Sinicon), vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) e Diretor de Relações Institucionais da Novonor.

    Artigo publicado originalmente pelo Jornal Folha de São Paulo no dia 1º de novembro. Acesse aqui.

    Nenhum Comentário

    Quer saber mais sobre
    algum assunto?

    Clique aqui e deixe sua sugestão
    para o próximo post!

    Notícias Relacionadas

    +
    0
    OEC

    No Terminal Oceânico da Barra do Dande foram montados os BRAÇOS DE CARREGAMENTO MARÍTIMOS dos BERÇOS 1 e 2....

    19 de Novembro de 2024
    +
    0
    OEC

    Durante os meses de outubro e novembro, a OEC em Angola, em parceria com a Academia BAI, promoveu uma...

    19 de Novembro de 2024
    +
    0
    OEC

    A OEC – Odebrecht Engenharia & Construção, uma das principais empresas do seu setor de atividade em Angola, celebra...

    19 de Novembro de 2024
    +
    0

    Após quatro meses de mentorias virtuais, o programa de voluntariado VOCÊ, promovido pela Fundação Norberto Odebrecht (FNO) e a...

    14 de Novembro de 2024