A promoção da Diversidade, Equidade & Inclusão (DE&I) tem ganhado cada vez mais força no universo corporativo, e se...
Um olhar voltado à equidade de gênero
DATA: 28/06/2024
Devido a mobilização das mulheres ao longo dos anos para reivindicar conquistas frente os problemas que enfrentam, as pautas relacionadas aos seus direitos estão cada vez mais em evidência em nossa sociedade. Apesar de existirem progressos na luta pela equidade de gênero, na prática, o caminho para garantir que recebam as mesmas oportunidades que homens é longo.
De acordo com Relatório Global de Desigualdade de Gênero de 2023 do Fórum Econômico Mundial, se continuarmos no atual ritmo, são necessários mais de 131 anos para que se elimine a disparidade entre os gêneros. Mesmo as mulheres apresentando índices mais elevados de frequência escolar e percentual de conclusão em todas as etapas de estudo, suas taxas de desemprego (13,9%) são maiores que a dos homens (9%), e quase metade delas segue fora do mercado de trabalho, segundo pesquisa de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Considerando a urgência desta pauta, as organizações podem desempenhar um papel estratégico na promoção dos direitos das mulheres. “A esfera privada filantrópica tem potencial de inúmeras contribuições para esta agenda. É necessário fomentar um olhar atento às questões de gênero e adotar ações específicas que colaboram para promover mudanças por uma maior igualdade”, afirma Claudia Pimentel, responsável pela área de Parcerias da Fundação Norberto Odebrecht.
O Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) publicou, em 2020, o guia “O que o Investimento Social Privado pode fazer por… Direitos das Mulheres?”. Nele, apresentam os desafios e caminhos de atuação que podem ser seguidos pelas organizações para colaborar na melhoria do cenário da equidade de gênero, como o fortalecimento de lideranças femininas, enfrentamento às violências e iniciativas para uma mudança cultural e social.
Este é um trabalho em constante aprimoramento realizado pela Fundação. Em 2003, a instituição criou o PDCIS, programa social que tem como uma das suas práticas a “Atuação Feminina no Campo”, da frente de Governança e Cidadania. Esta prática estimula o protagonismo feminino no contexto da agricultura familiar, enfatizando a participação ativa das mulheres nas rotinas produtivas e a necessidade de levar o debate de gênero para o ambiente rural.
As Casas Familiares do Baixo Sul da Bahia, instituições de ensino médio integrado ao técnico, são parceiras na aplicação do PDCIS, e, consequentemente, na promoção dos direitos das mulheres. Além de lidar com esta temática impulsionando nas alunas habilidades para a vida e maior participação cidadã, as escolas proporcionam a troca de conhecimento desta pauta através de palestras com lideranças femininas. Com o propósito de combater a falta de acesso a produtos básicos de higiene pessoal, também distribuem mensalmente Kits de Dignidade Menstrual para as estudantes.
Helen Nunes, professora da Casa Familiar Agroflorestal (CFAF), conta como o programa estimula a emancipação feminina através dos Projetos Educativo-Produtivos (PEPs), aprendizado prático de diversas culturas para os jovens em formação. “Ainda existem muitos pais que não aceitam suas filhas trabalhando na roça. Conseguimos empoderar nossas alunas demonstrando que as mulheres têm capacidade de desenvolvimento no campo. No PEP de hidroponia, cuja maioria em nossa escola quem faz são as garotas, são elas que levam as instruções para seus pais e são ouvidas, se tornando referência para eles desse conhecimento”, diz.
Nas Casas Familiares, a maioria (84%) dos estudantes se autoidentificam como negros e quase metade são mulheres (48%). A partir da colaboração com essas instituições na execução do PDCIS, a Fundação também ajuda a proporcionar a mulheres negras, grupo de ainda maior vulnerabilidade, uma formação que instrumentaliza e capacita essas jovens a possuírem maior autonomia, oportunidades e qualidade de vida. Monick Santos da Conceição, formada pela CFAF, afirma que estudar na Casa Familiar mudou sua realidade e visão de vida. “Foi lá onde consegui acreditar que a mulher pode, sim, atuar no campo e gerir seu próprio negócio”, conta.
Outras atuações
Buscando dar mais um passo para ampliar seu escopo de atuação para a equidade de gênero, a Fundação Norberto Odebrecht este ano desenvolveu um novo projeto estruturado com base nas práticas do PDCIS, “Dignidade e autonomia econômica para mulheres rurais”. Aprovado no GlobalGiving, plataforma internacional de crowdfunding voltada ao apoio de ONGs pelo mundo, o projeto visa fomentar maior dignidade, segurança alimentar e autonomia econômica para 100 mulheres que vivem em comunidades rurais da Mata Atlântica do Baixo Sul da Bahia.
No guia “O que o Investimento Social Privado pode fazer por… Direitos das Mulheres?”, o GIFE aponta que as organizações também podem contribuir para mudanças promovendo iniciativas educativas de combate ao machismo através de colaborações com empresas, para desenvolver ações voltadas à temática da equidade de gênero a partir da troca de experiências.
Foi com este intuito que a Fundação, em parceria com a OR, empresa de incorporação imobiliária do Grupo Novonor, criou o programa de voluntariado + Elas em 2023. Elaborado por mulheres, o programa visa o alcance do empoderamento feminino através de mentorias entre lideranças da OR e instituições parceiras do PDCIS. A partir de debates sobre temas como empatia, sororidade e igualdade, o + Elas incita mulheres de diferentes ambientes a compartilharem suas histórias e reconhecerem seus papeis enquanto fonte de inspiração e força.
“Quando pensamos no cenário ainda tão desigual das relações de gênero, sempre tentamos colocar essa pauta como um dos temas orientadores de nossa atuação. As organizações filantrópicas devem assumir a responsabilidade da posição potente que possuem enquanto agentes de mudança, por isso sempre devem permanecer na busca por soluções que contribuam para uma sociedade mais justa, democrática e equitativa”, conclui Claudia Pimentel.
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